30.11.12

acender uma velinha ajuda?

Quatro artigos submetidos no mesmo dia. O dia foi hoje. Estou semi-atordoada, mas viva. Um capítulo que deve ser submetido até amanhã. Sobre o capítulo devo dizer que sei qual o tema (melhor que nada) e confio que até amanhã à meia-noite serei iluminada por uma luz divina e tudo se resolverá.

29.11.12

(nem pareço eu)

green

A saber esperar, a dar tempo ao tempo, a saborear cada pequeno momento...

sinónimo de felicidade

Daqui a um mês estarei no meu lado preferido do mundo.

pessoas que quero longe de mim

feira de março

Ali está ele, aparentemente bem-disposto, conversador e amistoso. Imagino que é assim que os restantes o vêem. Eu conheço-lhe o lado lunar. Uma pessoa vingativa, mesquinha, sem carácter, sem princípios e sem limites. Fecho-me em mim e só me dou a quem me inspira confiança. Podem achar-me altiva ou insegura. Não me preocupo. Conheço as minhas razões e apenas isso me basta. Os mais atentos percebem-me, ainda que sem saberem as razões de eu (ou sabendo, sei lá), naquele momento, não ser eu. Assustam-me estas pessoas que se transfiguram, que são o Dr. Jekyll e o Mr. Hyde na vida real. Há um ano ele foi o Mr. Hyde e, para mim, é impossível algum dia voltar a ser o Dr. Jekyll.

28.11.12

living library

Tenho à minha frente um rapaz sérvio que me conta que com sete anos era acordado de madrugada pela mãe. A comida era racionada e só era dado um pão a cada pessoa presente. A mãe acordava o filho mais velho, uma criança na altura, e de madrugada juntavam-se à fila para poderem levar dois pães para casa. Depois disso ele ia para a escola e tudo se repetia no dia seguinte. Contou-me, também, de como uma vez na fronteira teve que fazer de conta que a mãe não era mãe, e de como a mãe lhe explicou que poderia ser aquela a última vez em que estavam juntos. Falou-me de como o pai nunca recuperou depois da guerra e de como a mãe se movimentou para que os filhos não passassem fome e estudassem. Ele, hoje adulto, é um doce. Sereno, com uns olhos azuis profundos e um riso original e contagiante. Quando lhe perguntei se aqueles anos de dificuldades, que se prolongam até hoje, lhe condicionam a felicidade, respondeu-me que sim, de forma sincera e sem dramas, com aquela calma que lhe conheci desde o primeiro momento. Eu, pouco dada a contactos físicos próximos com quase desconhecidos, tive vontade de o abraçar de cada vez que falámos e fiquei (ficámos) de lágrimas nos cantos dos olhos na hora de dizer adeus.

Lemos jornais e notícias na net, vemos documentários, mas ouvir as palavras alto e bom som e ver os olhos de quem as diz dá-lhes a dimensão real que lhes falta noutros contextos. E cada vez mais me questiono se aquilo que faço neste momento é efectivamente o que quero continuar a fazer (e já sei a resposta).

27.11.12

sem obrigações

Comecei a tirar fotografias por acaso e descobri que era algo de que gostava. Não tenho quaisquer ambições. Ando de máquina(s) na mão e na carteira porque me dá gozo congelar momentos e pessoas. Também porque a memória tem quase sempre prazo e de vez em quando gosto de olhar para a sombra dos meus caminhos, e as imagens facilitam-me essas caminhadas na penumbra.

Descobri, mais tarde, que tirar fotografias é o melhor quebra-gelo de que tenho memória e que é também uma arma de defesa perfeita. É uma espécie de camuflado que me protege e isola de situações que não me agradam e nas quais não me quero envolver. Ou melhor, envolvo-me, mas de forma diferente, enquanto observadora, com uma máquina em frente aos olhos.

Perguntam-me frequentemente se não quero rentabilizar a paixão. Mas eu acho que as paixões não se vendem. Encontram-se e tratam-se bem. Já tive um hobbie que passou a algo mais. Não vou dizer que foi uma má experiência, porque na realidade não o foi, mas as paixões deixam de ser avassaladoras quando passam a ser obrigações. Não tiro fotografias todos os dias, não tiro fotografias a quem não gosto, nem a sítios que não me despertem sentimentos, seja lá de que tipo forem. Descobri recentemente que gosto de fotografar pessoas (acho que também descobri que afinal até gosto bastante de pessoas e que não sou tão associal como imaginava), mas gosto de fotografar as minhas pessoas, aquelas que me provocam sorrisos, gargalhadas e lágrimas à mistura.

26.11.12

uma das preferidas da Sérvia

woman

(do outro lado)

Agora mesmo, na hora de adormecer o computador e continuar a escrita em casa, olhei para o calendário e cheirou-me ao ar quente e húmido de Timor, à chuva que se apanha com gosto nas noites que não refrescam, às caminhadas ao pôr-do-sol que se faz de tons diferentes todos os dias, aos farrapos que atravessam o céu naqueles breves minutos e que nos fazem acreditar que o mundo pode mudar de cor. Soube-me a sumo de abacate regado com chocolate e a arroz com gengibre, soube-me à manga mais doce que provei até hoje. Senti a temperatura da água azul e transparente que por cá não há e o sol que nos muda de cor em três tempos. E lembrei-me que há um ano não sentia borboletas no estômago porque toda eu era uma borboleta e ainda (quase) ninguém sabia. Há um ano trocávamos mensagens a uma velocidade que me parece impossível e contávamos os minutos para que a noite chegasse. Tanto que se passou entretanto e que me fez tão diferente do que era antes de partir.

muito mais que fazer anos

Fiz anos na Sérvia e tive direito aos parabéns cantados em já não sei quantas línguas diferentes. Houve bolo, beijos e abraços de quem estava presente e praticamente não me conhecia, e houve palavras doces de quem estava longe (uns já estão perto, outros continuam algures por aí). Houve reencontros com amigos com quem já não tinha contacto há demasiado tempo, houve marcações de encontros ao vivo e a cores para as próximas semanas. Estou ansiosa por tornar a ouvir o sotaque de alguém de quem gostei depois do primeiro olá (ainda te lembras da despedida naquela madrugada?). E é só por isto que gosto de fazer anos.

da Sérvia com saudades

like cotton

Se nos primeiros momentos desejei continuar na Suécia em vez de estar na Sérvia, depois esse sentimento desvaneceu-se e as diferenças que no primeiro impacto me deixaram de pé atrás foram, na verdade, o que mais me agradou. Novi Pazar é, pelo que percebi, uma região com características muito particulares no contexto sérvio. Num país maioritariamente ortodoxo aparece esta zona maioritariamente muçulmana, o que condiciona as regras e as vivências. Pequenos exemplos: piscina com horários distintos para homens e mulheres, discotecas e bares praticamente apenas frequentados por homens. As pessoas acabam por ser o que mais condiciona a minha apreciação dos sítios por onde vou passando. Os sérvios deixaram-me de coração a transbordar. Não é fácil encontrar tanta simpatia e tanta vontade de agradar de forma genuína. Os outros colegas de países dos balcãs foram surpresas repletas de inteligência, perspicácia e bom humor. O que eu gosto de encontrar pessoas com quem quase nem tenho de falar, com quem me entendo com trocas de olhares subtis (e outros nem tanto) e com sorrisos (mais ou menos marotos). Saudades, saudades, saudades e muita vontade de visitar um país que fica ali ao lado e do qual não sabia praticamente nada até há uma semana. Montenegro está na minha lista de sítios a visitar brevemente.

Agora é o regresso à vida real, às datas, às reuniões, aos artigos e aos capítulos, e às saudades de todos, mas particularmente de uma mão cheia de pessoas que por razões diferentes me fizeram sorrir e pensar muito.

13.11.12

telegrama

6 horas de avião + 6 horas de autocarro até Novi Pazar. O hotel fica num sítio isolado (pelo menos aparentemente, que cheguei cá já de noite e não faço ideia onde estou e só vejo escuridão), o que já vem sendo habitual nestas últimas viagens. O grupo é pequeno e aparentemente simpático, a ver vamos como isto corre.

12.11.12

agora na Sérvia

Depois da Suécia, a Sérvia. A um passo do Kosovo e a dois de Montenegro. Se há um mês me dissessem que hoje estaria a caminho da Sérvia faria um ar desconfiado. Espero que esta viagem tenha tanto de agradável como teve de inesperado.

daqueles alunos que se dispensam

Aviso os alunos que estou cá de tantos a tantos. Peço-lhes que me enviem as teses, relatórios e afins no início da semana portuguesa, para ter tempo de ler e enviar feedback. Tenho uma semana de cão com as tarefas esperadas e as inesperadas. Leio as teses que parecem não ter fim em quantidade e número de páginas, faço comentários, leio a versão número mil trezentos e quarenta e sete e as que se lhe seguem. No último dia em terras lusas, de madrugada, a ovelha negra do rebanho lembra-se de enviar a tese dela para que eu leia e corrija, como sua excelência faz questão de escrever no mail. Até que sou paciente e compreensiva, mas não quando me faltam muitas horas de sono e o cansaço já se apoderou de mim há muito. Respiro fundo e mentalmente ponho fita-cola à volta dos dedinhos para evitar mandar um mail à alminha a mandá-la para um determinado sítio.

10.11.12

Cansada. Tempo em contagem decrescente, tarefas que parecem não ter fim. Concentração em níveis que roçam o zero e a vontade também não está muito distante. Se me apanho dentro do avião até penso que é mentira.

9.11.12

ainda me lembro

Não te escrevi durante meses. Não porque não tivesse vontade, não porque não me apetecesse, não porque me faltasse inspiração ou não soubesse simplesmente o que te dizer. Ou talvez a razão seja exactamente a oposta: sabia tão bem o que te dizer. Não te escrevi porque tive de me defender. Obriguei-me a viver dentro de uma redoma que me afastasse de ti durante uns tempos, até que os ânimos serenassem e tudo fosse mais fácil, ou até que tudo fizesse parte do esquecimento e deixasse de ter vontade de te dizer fosse o que fosse, até que não me apetecesse contar-te dos céus estrelados e das paisagens planas a deixar de vista, até que não me apetecesse partilhar contigo o pôr-do-sol de todos os dias e o arco-íris que amanheceu comigo esta semana. Esse dia já devia ter chegado, mas não veio ainda. 

Há dias pus a redoma de lado por uns minutos e contei-te onde estava, o que estava a fazer, para onde ia e não precisei de te explicar porque te estava a escrever. Ambos conhecemos os porquês. Os mais próximos continuam a dizer que depois de ti houve atitudes que mudaram e que não voltei a ser a mesma. Eu sei que têm razão, mas limito-me a sorrir sem mais explicações. Não me apetece partilhar mais nada do que foram aqueles dias que contra duas vontades não vão ter repetição.

quase a ir (outra vez)

Há uns tempos ocorreu-me que seria interessante passar o aniversário em sítios diferentes, todos os anos. Infelizmente não nasci em meses que me permitam fazer isto facilmente. Ainda assim no ano passado fiz anos em Timor e este ano estou quase a partir para o sítio onde hei-de comemorar um novo aniversário.
Foi uma semana de completa desorientação, ainda não estou completamente reorganizada, ainda estou com a memória na Suécia e já é tempo de fazer a mala e tornar a ir por aí. Mas apesar de todo o cansaço, das poucas horas de sono durante esta semana e dos longos dias de trabalho, nada me agrada mais do que saltitar por aí.

7.11.12

Y
Voltámos há poucos dias, é natural que nos procuremos e falemos sob a forma de palavras escritas sempre que podemos. No entanto, este tipo de proximidade após a partida não é muito comum em gente crescida, ou pelo menos entre o tipo de gente que costumo conhecer em encontros de trabalho. É como se grande parte de nós antes de partir para a conferência deixasse a pessoa que é em casa e levasse só o académico que, vá lá saber-se porquê, se convencionou que é aborrecido e cinzento. Acho que tenho sido particularmente feliz nas últimas saídas de trabalho porque tenho encontrado e conhecido pessoas e não académicos, e também porque temos ido muito além do trabalho e temos partilhado experiências e opiniões sobre tantos assuntos que nada têm a ver com a academia. E, mais do que isso, temos partilhado sentimentos e emoções e temo-nos deixado envolver pelos outros, sem receios e sem preconceitos. Ando com as costas um pouco voltadas para o meu mundo, estou cansada de convenções e faz de conta. Apetece-me ser mais eu. Lamento (ou não lamento nada), mas não sou cinzenta, séria e chata, e não me apetece vestir esse fato apenas para agradar.

6.11.12

o meu computador é um felino

Não sou pessoa de andar com muita coisa na mão. Na viagem de regresso tinha um longo caminho pela frente antes de chegar ao aeroporto. Portanto, repeti o que já fiz várias vezes: portátil no bolso exterior da mala e quando chegasse ao aeroporto passaria o computador para a carteira. Assim, sempre eram menos umas horitas a carregar o computador. O livro, o cachecol e as luvas tiveram o mesmo destino. Chegada ao aeroporto trato do check in  e rumo à porta de embarque. Sento-me calmamente e penso para os meus botões "Estou a cair de sono, mas vamos lá ver se consigo ler um bocadinho." E foi aí que se fez luz, ou que vi a escuridão com a marcha fúnebre como música de fundo: o livro tinha ficado no bolso de fora da mala de viagem, assim como o portátil.

Pensamento número um: mesmo que não me tentem roubar o portátil e que o fecho não se abra e ele não caia simplesmente, o bolso não é almofadado e a bolsa que protege o portátil é relativamente fina; com o tratamento que dão às malas, o belo e esguio computador não vai resistir aos embates a que vai ser sujeito.
Pensamento número dois: o que é que eu tenho no portátil que não tenho em mais lado nenhum?

Bom, não podendo fazer nada, respirei fundo e não pensei mais no assunto. Quando mais de 12 horas depois voltei a pôr os olhos na mala, abri a medo o bolso exterior e pus as mãozinhas num computador inteiro e intacto. Pessoa de sorte, eu sei: tenho um computador com sete vidas.

pedaços de mim espalhados por aí

winter time
Há viagens inconsequentes e viagens que desmancham o nosso puzzle e deixam as peças fora de sítio, enquanto outras simplesmente se perdem. Timor foi como um furacão que não deixou peça nenhuma sítio, me roubou algumas e em troca me deixou peças aparentemente sem encaixe. Depois veio a Bulgária, aparentemente mais suave, mas que deixou marcas profundas e me mostrou, mais uma vez, que embora muitas vezes me sinta a viver uma realidade paralela quanto estou longe do meu ninho, this is also real life, com todas as consequências que daí advêm. À primeira vista, a estadia na Suécia reunia todas as condições para que nada corresse bem. Pelo contrário, e de forma surpreendente, tudo foi perfeito. Sinto que as peças do meu puzzle estão fora de sítio mais uma vez, mas ainda não sei explicar porquê. Ainda estou a processar tudo o que (me) aconteceu, as pessoas, as caminhadas, as partilhas, a intimidade genuína que estranhamente só se consegue com quem quase não se conhece. O que deveria ter sido só mais um curso, foi muito mais que isso. Agora estou de volta às minhas pessoas, aquelas que estão cá sempre de pedra e cal, mas faltam-me algumas das que nos últimos dias estiveram presentes quase 24 sobre 24 horas. Não foi por acaso que as despedidas foram breves, sabíamos que não seria fácil virarmos costas depois de tudo. Ontem, exausta, adormeci no sofá. Acordei de madrugada, olhei em volta e o meu primeiro pensamento foi "Onde é que eles estão?". E depois de olhar e tornar a olhar reparei que o espaço e a mobília me eram familiares. "OK, estou em casa, mas onde é que eles estão?", e só aí se fez luz e me lembrei que agora não havia mais nós nem eles, e estava cada um por aí algures. Acordada e ainda um pouco desorientada abri o mail e o que li fez-me sorrir "I can't sleep, I miss you".

sauna + lago

first sauna then swimming in the lake
Antes de ir aconselharam-me a levar biquíni, que havia um lago por perto e que iria dar jeito. "Suécia", "biquíni" e "lago" eram palavras que na minha mente portuguesa não combinavam. O dia em que cheguei foi o dia mais frio. Ou então estava a sofrer os efeitos do choque térmico e afinal não estava assim tanto frio. A verdade é que no dia seguinte tudo em redor amanheceu em tons de branco, e o gorro, o cachecol e as luvas me souberam muito bem. Capacidade de adaptação foi coisa que nunca me faltou e nestes poucos dias dei comigo a passear na floresta sem gorro nem luvas, e a não ter frio nenhum. Na última noite fizemos aquilo que nos primeiros dias nos parecia ser o máximo da loucura. Depois de uma bela meia hora de sauna (sauna com lenha, nada de saunas eléctricas como as que temos por cá; era uma espécie de lareira com formato de sauna!) saímos descalços, de biquíni ou calções, para os 2ºC lá fora, descemos as escadas e mergulhámos no lago. Sim, a água estava gelada. E, sim, gostámos tanto que voltámos à sauna e regressámos ao lago, uma e outra vez. Agora, já do lado normal das nossas vidas, comentamos entre todos o bem que nos sabia repetir a aparente loucura.

5.11.12

do calor que se gerou no frio

Os lugares são as pessoas, e este lugar junto à floresta com varanda para o lago era o que eu estava a precisar. Saudades dos olhares cúmplices, dos abraços, dos sorrisos.
glass plant frozen grass frozen morning